A Arte de Raimundo Lúllio – Doutor Iluminado
A Arte
Raimundo Lúllio ou Raimundo Lúlio (em catalão Ramon Llull; em espanhol, Raimundo Lulio; em latim, Raimundus ou Raymundus Lullus; em árabe, رامون لیول ), foi o mais importante escritor, filósofo, poeta, missionário e teólogo da língua catalã. Escreveu mais de 260 livros, motivado que foi, conforme suas próprias palavras, a escrever, em pelo menos um deles, “o melhor livro do mundo”. Foi um prolífico autor em árabe e latim, bem como em langue d’oc (occitano).
Para os admiradores, um gênio, talvez o precursor do código binário usado na computação moderna. Para os adversários, um ilusionista, o doutor Fantástico da cavalaria na Idade das Trevas. Oficialmente, beato da Igreja Católica. Lúllio é uma das figuras mais fascinantes e avançadas dos campos espiritual, teológico e literário da Idade Média.
Foi um leigo próximo aos franciscanos. Talvez tenha pertencido à Ordem Terceira dos Frades Menores. Fez parte da corte de Jaime I em Maiorca, foi amigo do futuro rei Jaime II de Maiorca e, segundo seu relato, levava uma vida libertina de jogral, até que, por volta de 1265, teve visões místicas e fez uma conversão a uma vida de contemplação, iniciando seus estudos em línguas estrangeiras e teologia. Era conhecido em seu tempo pelos apelidos de Arabicus Christianus (árabe cristiano), Doctor Inspiratus (Doutor Inspirado) ou Doctor Illuminatus (Doutor Iluminado), embora (ainda) não esteja no clube restrito dos 36 Doutores da Igreja Católica.
Dedicou-se ao apostolado entre os muçulmanos. Além de ser o primeiro autor a utilizar uma língua neolatina para expressar conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos, destacou-se por uma aguda percepção que o permitiu antecipar muitos conceitos e descobrimentos. Lúllio foi o criador do catalão literário, possuindo um elevado domínio da língua e tendo sido seu primeiro novelista.
Em alguns de seus trabalhos, propôs métodos de escolha que foram redescobertos, séculos mais tarde, por Condorcet (século XVIII).
Influiu em Nikolaus von Kues, Pico della Mirandola, Francisco de Cisneros, Heinrich von Nettesheim, Giordano Bruno e Gottfried Wilhelm Leibniz.
☼ Veja a amostra de Pensadores Antimodernos (https://devenireditora.com/wp-admin/post.php?post=920&action=edit
☼ leia Ars Brevis: https://devenireditora.com/pdf-de-ars-brevis
Fonte: https://www.ricardocosta.com/sites/default/files/pdfs/artebreve.pdf
outros textos: https://www.ricardocosta.com/textos/ramon
Exemplos de Figuras da Ars Brevis:
Figura T – A arte dos significados
Figura S – A arte da ação humana propositada (filosofia antropológica)
Anexo
Apresentação do vol. 1 – Ciência Natural
O guia interdisciplinar, e essencial, do estudante, que aqui se inicia tem por objetivo fomentar o imaginário e o entendimento das principais disciplinas e temas que perfazem essa verdadeira arte de aquisição de conhecimentos e formação da personalidade para lidarmos com o mundo das coisas e do espírito. Começar pelas noções de Ciências Naturais é começar muito bem, talvez a forma mais “natural” em tempos de secularização da “arte” de conhecer. Com o tema da leitura de clássicos, seguida do tradicional método das artes liberais, o leitor terá em mãos as três obras que darão início a coleção promovida pela Intercolegial Science Students, com notória e fundamentada base cristã e primorosa seleção de autores didáticos, mas altamente gabaritados em suas respectivas áreas de saber.
Em nossa cultura, a ciência é entendida como um conhecimento objetivo, verdadeiro, rigoroso, seguro e comprovado. Em vez disso, o não-científico é visto como subjetivo, duvidoso, mutável, não confiável e inseguro. Parece que todo conhecimento apresentado com reivindicações de objetividade deve ser científico. Se não for, não serve.
No entanto, dificilmente nos ocorreria pedir aos nossos pais um teste científico de paternidade. Nossa avaliação da ciência está ligada, acima de tudo, ao fato de onde ou em quê depositamos nossa confiança. Quando vemos os resultados de alguma coisa, como uma vacina contra uma pandemia, é muito fácil afirmar ser esse conhecimento verdadeiro, mas isso não significa que a ciência seja a única forma de adquirir um conhecimento verdadeiro.
O raciocínio filosófico e a confiança nos outros saberes também são válidos. Além disso, nenhuma das ciências é tão objetiva quanto parece, porque contém alguns elementos subjetivos e os outros conhecimentos não são tão subjetivos como poderíamos supor ou como nos ensinam na fase escolar.
Existe conhecimento objetivo além da ciência. Essa distinção de veracidade entre a ciência e os outros saberes não é correta. O conhecimento científico é verdadeiro dentro do contexto adequado e se atender a certos requisitos.
O dado científico, geralmente, não é algo perfeitamente estabelecido e muitos autores enfatizam ser a verdade do conhecimento científico provisória e sujeita à revisão. Ademais, a ciência fornece conhecimento valioso que não é eticamente neutro.
Basta observar que muitas das conquistas da ciência anteriores aos totalitarismos do século XX foram testadas e aplicadas em seres humanos. O conhecimento científico traz muitas vantagens e alguns riscos. Nada garante que os avanços científicos sejam bem utilizados no futuro.
Essas são as linhas gerais que tencionam preparar o leitor para uma obra que, metaforicamente, o conduzirá a uma jornada pela bela e fecunda história das ciências naturais, a qual começa com as cordas de Pitágoras e, por ora, termina nas “supercordas” da contemporaneidade científica.
Então, só nos resta desejar uma boa viagem pelas sendas desse importante campo do saber humano nos dias de hoje.
↗ Hermenêutica – na Retórica, ciência ou instrumento de interpretação de textos pelas intenções de comunicação e expressão do autor e significados de palavras e nomes no contexto de seu uso. Para Lullio o convencimento dos infiéis pode se dar perfeitamente na arte de combinar símbolos e argumentos pelo uso da razão natural, campo da Lógica/Dialética. A Arte é uma arte ou técnica de disputar, que apresenta a Verdade a partir de formulações racionais que Lúlio chama “razões necessárias” ou “razões demonstrativas”.
A Arte tem duas fases, a quaternária e a ternária, que recebem o nome do facto de que a maioria dos seus componentes básicos são respetivamente múltiplos de quatro ou de três. Na etapa quaternária, os argumentos lulianos baseavam-se nas típicas comparações neoplatónicas, em que a bondade, a grandeza, a virtude, etc., concordavam com o ser, e os seus contrários com o não-ser ou a privação. Esta técnica comparativa pode alargar-se às analogias e aos diferentes níveis de ser e também aos exempla das obras narrativas de Lúlio, maioritariamente produzidas durante este período. Na fase ternária os seus argumentos baseavam-se em definições como:
“Bondade é aquela coisa que por razão da qual o bom faz o bem”, e
“grandeza é aquela coisa pela qual bondade, duração, etc., são grandes”.
Estas definições aparentemente tautológicas, de fato, correspondem a uma realidade dinâmica na qual aquilo que uma coisa faz é quase mais importante que aquilo que é, um dinamismo que se articula através da doutrina dos correlativos de Lúlio. Estas definições eram, além disso, unívocas, pelo fato de serem aplicáveis indistintamente ao mundo divino e ao mundo criado. Por isso podia-se aplicar a combinatória de Lúlio à criação de argumentos por intermédio da mescla destas definições.
Principios da Arte
Figura A
No estágio quaternário da Arte, essa figura contém os dezesseis atributos de Deus, chamados ‘dignidades’ (às vezes ‘virtudes’), cujas semelhanças se refletem na realidade criada. A figura é desenhada com uma rede completa de linhas cruzadas para mostrar que cada uma dessas dignidades concorda com as outras. No estágio ternário da Arte eles são reduzidos a nove: bondade, grandeza, eternidade, poder, sabedoria, vontade, virtude, verdade e glória.
Fig. T
Neste momento já não são chamados de “dignidades”, mas de “princípios”, porque não se aplicam exclusivamente a Deus, mas a toda a escala dos seres. Essas duas funções diferem porque as dignidades no mundo criado podem ser distinguidas uma da outra, mas elas coincidem e são idênticas em Deus, onde elas podem se predicar mutuamente. Em Deus, por exemplo, a bondade é grande e a grandeza é boa. O traço distintivo de Deus reside neste fato e nos permite defini-lo exclusivamente: Deus é o ser no qual coincidem a bondade, a grandeza, a eternidade e o resto das dignidades; daí segue a demonstração per aquarantiam ou argumento de identidade — isto é, a identidade de Deus com suas dignidades e destas consigo mesmas.
Esse segundo grupo de princípios foi estabelecido na Arte Quaternária para determinar os possíveis modos de relação existentes entre outros conceitos da Arte. Consiste em cinco triângulos de três conceitos cada:
Deus, criatura, operação; diferença, concordância, contrariedade; início, meio, fim; maioria, igualdade, minoria; afirmação, dúvida, negação.
Assim, Lúlio poderia estabelecer, por exemplo, o acordo entre duas dignidades ou a contradição entre uma virtude e um vício. Na Arte Ternária, o primeiro e o último triângulos desapareceram e os componentes da figura foram reduzidos a nove. Nesse momento aparecem as definições desses conceitos, como ‘a concordância é uma entidade pela qual a bondade, etc., em uma coisa e em muitas concordam’. Por outro lado, são considerados como princípios gerais, aplicáveis a toda a hierarquia do ser (com exceção da ‘contrariedade’ e ‘minoria’, que não têm lugar em Deus) e podem ser ‘misturados’ com os princípios da Figura A para produzir os argumentos necessários.
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Fonte: https://quisestlullus.narpan.net/pt-pt/os-principios-da-arte
Leia Encontros de Raimundo Lúlio, a 4 min. do Apocalipse