(por Murilo Veras, escritor, CEO da Devenir)
No filme Som na faixa (I), o parceiro nerd do sueco Daniel Eik, CEO da empresa Spotify, é repreendido por gastar mais de míseros 30 segundos para baixar uma música completa no aplicativo por ele desenvolvido. Foi nesse momento que, desafiado pelos limites restritos de tráfico da web, desiludido, teve um de seus melhores insights: sentado numa calçada, por acaso, observando um carro passar o sinal vermelho. Mas quem determinou a engenharia de tal tráfico? Acaso o critério foi tão racional assim?
No filme Einstein e Edigntton (II), em 1914, Einstein foi desafiado pelo inglês Eddington quanto a órbita irregular do mercúrio. Em resposta, ajusta sua teoria da relatividade restrita, mas é censurado pelos nacionalistas alemães em pé de guerra com ingleses e pelo próprio colega universitário, Max Plank (cujo filho morrera na I Grande Guerra).
Desiludido com os rumos da política e das ciências universais, caminha a esmo nas ruas de Berlim. Nesta cena imaginária, quase teria sido atropelado na rua por uma sequência de carros se desviando dele, de um lado a outro. Imaginou-se ele mesmo como o Sol. Porque os planetas não se precipitam sob o peso da gravidade do Sol? Seu insight foi de considerar sua teoria restrita, de 1905, como uma descrição específica, que não deve impedir outra mais geral de explicar os efeitos harmônicos de um plano a outro, ou seja, do plano do espaço e do plano da gravidade, indo e vindo no mapa orbital. Tendo como centro a massa reinante do Sol, em nosso sistema solar, são os planos que se curvam em sua volta, o próprio mapa se curva!
Ambos filmes expressam metáforas de cotidiano no entendimento dos fenômenos enigmáticos da natureza e da lógica. Não se sabe se foi bem assim, mas sabe-se que inspirações surgem das formas mais inusitadas. No caso dos sistemas informatizados a solução foi driblar as regras fixas e inflexíveis do tráfico de bits no protocolo http — criou-se as bases do streaming de áudios e vídeos (a mesma que viabilizou a Netlix); no caso de Einstein, foi o de mapear um tráfico de massas em torno de uma massa amplamente predominante, adotando uma nova “regra” de trânsito de corpos num espaço curvo. Em nova carta ao eminente cientista inglês, comunicando sua descoberta, este teve então a idéia chave de pôr a prova a teoria de espaço absoluto de Newton: um eclipse solar total poderia demonstrar, ou não, a curvatura da luz.
O experimento decisivo foi feito na Nigéria, em outubro de 1919. E os resultados surpreenderam a comunidade científica. O experimento provou a curvatura da luz ao passar pelo Sol e lançou a teoria as alturas de todo o empreendimento físico da primeira metade do século XX, quase pari passu com a teoria quântica que se seguiu logo depois.
Mas o sonho de se mapear a cosmologia prossegue como um grandioso empreendimento, provavelmente ainda bastante longe de ser concretizado, — se é que convém ao cientista mapear teses conclusivas de todos pelo conhecimento das partes. Ademais, as disputas entre a relatividade e a teoria quântica continuam, e a esperança de unidade das quatro grandes forças físicas do Universo continua um mistério.
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Em Guia do Estudante de ciência natural, Stephen Barr resume os caminhos mais imprevisíveis das ciências da natureza mas vai mostrando os compassos de grandes teorias, sempre em aberto, e os desafios permanentes de se apresentá-las na complexidade cognitiva das teses produzidas pela melhores mentes. E o desafio — possível ou impossível —, de fazê-las representar algo mais da complexidade infinita dos dados da natureza.
Talvez uma das melhores lições na produção dos insights esteja num dos mais belos padrões de comportamento dos dados medidos com relação aos próprios sujeitos da medição, o padrão de simetria entre os mais ordenados sistemas cognitivos, via matemática, e os desvios inusitados do Universo. Do micro ao macrocosmos, o que a ciência empírica chama de resíduo também indica algo do todo do real: algo que jamais se submeterá a ordenações sistemáticas.
Pelo sim, pelo não lógico (III), pelo todo ou pela parte epistêmica, o autor propõe que o estudante atento se sinta estimulado a confrontar insights, teses e paradigmas científicos. Entre outros, no entendimento dos caminhos humanos efetivamente percorridos e no intento maior do árduo orquestramento de objetos, sinais e rotas dadas pela filosofia da natureza. Nem a matemática nem a lógica simbólica fogem ao jogo de revelação e ocultamento do Cosmos.
Até hoje, nem a Física de Aristóteles foi desvendada pelas concepções modernas. Se Deus não joga dados, aos acadêmicos e às universidades não cabem ditar as regras do jogo, apenas propor padrões e modelos. História, filosofia, religião e arte (IV) cooperam para a contemplação mais intuitiva das maravilhas da Natureza.
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A coleção Guia do Estudante visa oferecer aos estudantes visões inovadoras em chaves interpretativas clássicas. A história das ciências e da filosofia das ciências ajudam a entender os mecanismos de busca da verdade cabendo às artes liberais mapear os domínios, escopos e limites dos conhecimentos. Trivium e quadrivium indicam rotas e sinais da natureza no orgestramento musical do Universo e na ascendência filosófica e espititual das almas.
(I) Trailer do filme: https://youtu.be/j_6kwlq1lMg.
(II) Filme dirigido por Philip Martin, diretor de televisão e roteirista Libanês. Ele dirigiu o drama de televisão Hawking (2004), que foi indicado para o prêmio da Academia Britânica de Televisão de Melhor Drama único. O roteiro do filme prima em retratar o quotidiano dos dois cientistas (segue link para uma mini resenha do filme)
(III) O problema da relatividade na natureza também reflete o problema lógico e epistêmico do entendimento da realidade. Segundo William Lane Craig (Tempo e eternidade: as relações entre Deus e o tempo, ed. Vide, 2023), a lógica dicotômica V e F, também chamada de vero-funcional, implica em tomada de posição não passível de falsificação. Como a ciência vive de teses e hipóteses, o critér io de verificabilidade de fatos empíricos não pode per se ser referência de falsificabilidade por não ser passível de falsificação, muito menos princípio e referente de verificação. (no caso, a curvatura da luz não prova que o espaço e o tempo deixem de ser referentes do movimento inercial o retilíneo, apenas transfere o referente absoluto a algo que transcende os dados observáveis, o que foi proposto por Isaac Newton em seu Pincipia mathmetics).
(IV) veja-se particularmente o papel das universidades e da Filosofia no tema “Deus” em Deus, Filosofia e as universidades, de Alasdair MacIntyre, publicado pela Devenir Editora.
Em breve:
A Natureza não lança dados (II): ascenção do tempo à eternidade
(por Murilo Veras, escritor, CEO da Devenir)
ementa:
Em post anterior sugerimos que trivium e quadrivium indicam rotas e sinais da natureza no orgestramento “musical” do Universo, nos indicadores de simetria, segundo o físico Stephen Barr, e na ascendência filosófica e espiritual das almas. Nesse entendimento, a Música do quadrivium, com Arte Liberal indica as notas harmônicas do espaço em consonância com um tempo ora relativo, ora absoluto. Einstein, Newton e Heisenberg ainda precisam entrar num acordo quanto aos limites da Física no entendimento do todo do Cosmos. Mas a natureza cósmica é apenas uma das disciplinas do Mapa do Conhecimento. De Willian Craig ao professor contemporâneo Wolfgang Smith, de Aristóteles ao filósofo e teólogo santo Tomas de Aquino, é no universo da Alma que encontraremos o processo verdadeiramente ascensional do espaço-tempo, e mesmo a lógica analítica, convenientemente interpretada, vai indicar rotas de saberes no verdadeiro papel das Universidades: ordenar e interpretar conhecimentos; quantificar e qualificar cenários e referentes causais. Se possível, apontar sinais da linguagem nos domínios científicos, filosóficos e religiosos. Em Deus, filosofia e as universidades, Alasdair MacIntyre vai ajudar o leitor a mapear algumas dessas rotas no magistério das ciências e da filosofia da natureza, sobretudo de natureza ética e moral do homem-imagem-e-semelhança de Deus. Em Guia do estudante de core curriculum, Mark Henrie ajudará o estudante iniciante a selecionar o passo seguinte ao do quadrivium, a Gramática, entendida como Arte da literatura clássica e universal.